É constrangedora a forma como os governos e a própria sociedade Portuguesa têm abordado diversos problemas ambientais que nos afligem. O passar do tempo parece não ter outro efeito que não seja o de agravar a situação, tornando mais difícil a implementação de soluções num futuro em que exista outra disponibilidade para o Ambiente.
Os problemas ambientais, quando se agudizam e deixam claras as suas fortes implicações negativas, despertam a atenção da sociedade, despoletando fortes lamentos por parte dos cidadãos e o anúncio de várias medidas por parte dos governantes. Este cenário recorrente que nos acompanha ano após ano raramente resulta na resolução e minimização dos problemas. Depois do assunto sair das páginas dos jornais e dos ecrãs de televisão, tudo volta ao mesmo. Esquecem-se as medidas, as estratégias e os planos apresentados até que se justifique novamente apresentar mais medidas, mais estratégias e mais planos quando o assunto voltar a despertar o interesse da comunicação social.
Exemplos destas situações, infelizmente, não nos faltam e para mal do Ambiente dizem respeito a questões fundamentais à qualidade de vida e à manutenção dos equilíbrios naturais. As recentes preocupações relativas à falta de água no país, devido a uma ausência de precipitação como não se via há muito tempo, ressuscitaram mais uma vez as apreensões relativas à forma como se faz a gestão dos recursos hídricos em Portugal.
Quando as chuvas conseguirem apagar esta preocupação de quanto tempo acham que ainda precisará o nosso país para implementar a Estratégia Nacional para o Uso Eficiente da Água, desenvolver campanhas de sensibilização para a poupança de água, proteger contra a poluição as fontes de abastecimento e uniformizar os preços da água? Com certeza mais uma eternidade.
Ainda há pouco tempo, devido à escalada do preço do petróleo, o governo lembrou-se de apresentar uma lista de medidas para reduzir a dependência de Portugal em relação a este combustível fóssil, medidas estas que para além da sua importância económica seriam fundamentais para melhorar o Ambiente.
Nenhuma das medidas é nova e há muito que são urgentes para diminuir a poluição atmosférica, preocupante nos principais centros urbanos e industriais, e reduzir os efeitos das alterações climáticas que já afectam o planeta. Ao contrário das medidas apresentadas, na prática, de forma incoerente, foi aumentado o preço dos transportes públicos, anunciados mais investimentos em vias rodoviárias nomeadamente de acesso a Lisboa e reduzidos os incentivos à produção de energias renováveis.
Os incêndios florestais em Portugal também padecem deste mesmo mal. Todos os anos ouve-se falar de várias medidas para reduzir o efeito devastador deste flagelo. No Verão de 2003 os Portugueses ficaram chocados com a dimensão deste problema e foram novamente anunciadas inúmeras medidas que mais uma vez tiveram grande dificuldade em sair do plano teórico.
Também neste caso a culpa não recai apenas sobre os governantes que manifestam profundas dificuldades em corrigir várias deficiências estruturais. A população Portuguesa, apesar do choque que sentiu com os efeitos dos incêndios em 2003, ainda não conseguiu compreender que é a prevenção que poderá fazer a diferença. Em pleno Verão de 2003, quando o país estava “a arder”, ainda havia quem lançasse fogo de artifício e fizesse queimadas e fogueiras junto aos espaços florestais.
Hélder Spínola Presidente da Direcção Nacional da Quercus QUERCUS Ambiente n.º 12 (Janeiro/Fevereiro 2005)