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Opinião
Alterações Climáticas: Uma decepção chamada Estados Unidos
Os dados impressionam: os EUA são responsáveis por 25% das emissões mundiais de gases de efeito de estufa; apresentam até agora um crescimento das suas emissões de 14% em relação a 1990, quando o Protocolo de Quioto lhes fixaria um limite de 7% de redução até 2008-2012; os próprios EUA apontam para um aumento entre 16 a 26% até 2012, sendo que estudos dos ambientalistas mencionam 32% como um número mais realista.

Após a ratificação do Protocolo de Quioto pela Rússia (e por mais 129 países), a grande questão é saber como se pode envolver os EUA num sistema multilateral que obrigue a acções para a redução das emissões de gases de efeito de estufa. Em Buenos Aires, esta foi uma semana de frustração, com cedências da parte da União Europeia na tentativa de iniciar um diálogo sempre recusado, com a divulgação sexta-feira de que Tony Blair não havia convencido em nada o seu homólogo americano, terminando com a reafirmação da parte do chefe de delegação dos EUA, Harlan Watson, que compromissos da parte do seu país não serão sequer discutidos antes de 2012.

A entrada em vigor do Protocolo de Quioto é sinónimo de que os EUA estão dessincronizados e fora de jogo. É certo que os EUA, o maior poluidor do mundo, se deve juntar ao Clube de Quioto (o dos países que ratificaram o Protocolo), mas apenas se assumir as certezas dos outros países como o Reino Unido, a China e a Rússia.

O Protocolo de Quioto é um pequeno passo de um desafio muito maior, mas é um passo que pode colocar o mundo num caminho diferente e mais sério se se quiser evitar os impactes mais dramáticos de um provável aumento para além dos dois graus centígrados acima da temperatura na era pré-industrial.

Um dos objectivos da administração americana é mostrar ao mundo que afinal até está a trabalhar no sentido de reduzir as emissões. Uma das estratégias é falar da intensidade de emissões (as emissões de gases de efeito de estufa a dividir pelo produto interno bruto - PIB); os EUA comprometeram-se a reduzir este indicador, só que tal não implica necessariamente uma redução real das emissões. Um outro aspecto a que os EUA têm procurado dar visibilidade, é o conjunto de acordos voluntários feitos com múltiplas empresas, da indústria à agricultura. Porém, uma análise mais detalhada mostra que os resultados se têm expresso num aumento de emissões de 16% na última década e, nalguns casos, acima dos valores previstos num cenário sem restrições.

A eleição de George Bush foi o continuar da desilusão sobre a postura dos EUA que continuam a pôr em causa as conclusões de centenas de cientistas, a maioria americanos, sobre as causas e consequências das alterações climáticas. Não é por acaso que os EUA usam agora a expressão "variabilidade climática" em vez de "alterações climáticas". Simultaneamente, a administração tem-se oposto a políticas internas de incremento das renováveis e de redução das emissões. A aposta tem sido em soluções tecnológicas, que o próprio chefe da delegação americana reconhece que só terão um impacte em 2035 no caso do hidrogénio e em 2050 no caso da fusão nuclear, ou laterais como a sequestro e armazenamento de carbono em profundidade.

A estratégia de envolvimento dos EUA merece assim uma nova abordagem que merece alguma esperança, baseada no tempo e numa mudança interna, acrescida da pressão internacional que não deve ser abrandada. Várias áreas de negócios nos EUA sentem-se prejudicadas pela impossibilidade de usufruírem do mercado do carbono; vários Estados, nomeadamente a Califórnia, estão a implementar os seus próprios programas de redução; o próprio Congresso começa a dar alguns passos tímidos; as seguradoras limitam a cobertura de determinados danos em áreas sensíveis a tempestades e no litoral.

A política interna dos EUA tem de ser sedimentada primeiro antes que um compromisso internacional seja assumido. O único senão é que os custos ambientais, sociais e económicos terão de ser suportados por todos, com maior vulnerabilidade para os países mais pobres, até que a inevitabilidade de um compromisso de redução venha um dia a ser assumido.

Por FRANCISCO FERREIRA
Dirigente da Quercus

Domingo, 12 de Dezembro de 2004
Artigo publicado no Jornal PÚBLICO
 
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