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Entrevistas
“A Rua do Século não é a pré-primária para um político”
Depois de vários anos de lutas ecológicas como ambientalista, Pedro Vieira defende hoje o Ambiente através do jornalismo ambiental. No livro “O Estrago da Nação”, que lançou recentemente, traça um retrato negro sobre Portugal, lamentando os prejuízos ambientais, mas sobretudo a indiferença dos portugueses. Igualmente crítica é a avaliação que faz sobre o actual Ministério do Ambiente.

Entrevista a Pedro Vieira, autor de “O Estrago da Nação”
Escreveu “O Estrago da Nação” com que objectivo?
Comecei a escrever este livro um pouco para arrumar algumas ideias, porque praticamente todas as abordagens que eu faço já as tinha desenvolvido, de certa forma, ao longo dos meus anos de jornalista. O livro pretende mostrar um pouco como é que Portugal perdeu uma oportunidade de ouro para se desenvolver de uma forma sustentável. Ou seja, com a entrada na União Europeia, tivemos uma oportunidade de recuperar quer algum atraso económico, quer um atraso bastante grande em alguns aspectos ambientais, nomeadamente no saneamento básico. Mas, o que se verifica ao fim destes anos todos é que nem nos desenvolvemos muito economicamente nem ao nível ambiental. Ao nível de saneamento básico houve algumas melhorias, mas não aquelas que se esperariam com os Fundos Comunitários. Em outros aspectos, houve situações em que piorámos a olhos vistos, nomeadamente, na poluição do ar, na conservação da Natureza, nos transportes, nas emissões de poluentes, sobretudo de dióxido de carbono. Este livro tenta fazer uma avaliação do estado da nação numa perspectiva ambiental e de desenvolvimento sócio-económico, daí não ser inocente o facto de o título do livro brincar um pouco com isso. “O Estrago da Nação” é um diagnóstico que mostra, à partida que, de facto, as coisas estão um bocado mal.

Esse diagnóstico é um pouco inconformista. Mostra que Portugal está a caminhar para ser irremediavelmente insustentável?
Havia um político brasileiro que dizia: “Quando chegámos ao governo estávamos à beira do precipício. Agora já demos um passo em frente”. Julgo que em muitas situações Portugal já não está numa situação de pré-catástrofe... No caso do urbanismo, chegámos a um estado de coisas extremamente difícil de inverter, onde as questões financeiras determinam muito a política urbanística. Tendo em conta que temos as autarquias a viverem dos chamados “impostos do betão”, ou seja da antiga Siza e da antiga contribuição autárquica, isso faz com que elas pensem mais em termos dos seus cofres do que na questão da qualidade de vida e do desenvolvimento harmonioso em termos urbanísticos. Há outros aspectos em que, embora possam ser reversíveis ainda, nota-se uma evolução muito desfavorável. Por exemplo, no caso da Conservação da Natureza, parece-me que nos últimos anos se tem dado passos bastante atrás. Embora as pessoas não saibam, Portugal é um dos países da Europa, e mesmo à escala mundial, que tem mais espécies em perigo de extinção.

Mas não consegue apresentar soluções para o nosso país?
Quem ler o livro nota algumas referências de quando em vez sobre as soluções para o país. Agora, como dizia um escritor: “Já foram inventadas todas as palavras para salvar o mundo, agora só é necessário salvá-lo”. Todos os problemas que são apontados no livro têm soluções, e não tenho a veleidade de querer encontrar a solução para os males do país, porque outros já o fizeram. Sabe-se, e o governo sabe em muitos aspectos, o que é que se pode fazer para inverter alguns problemas. Em alguns capítulos abordo qual seria a solução. Mas acho que o importante, e essa é a mensagem que tentei transmitir no livro, é mostrar até que ponto a situação é suficientemente dramática para tomarmos mais a sério essas questões, que são questões ambientais, mas são questões que têm a ver com a própria qualidade de vida dos portugueses.

Quer dizer que ainda há esperança para o nosso país?
Tenho alguma esperança de que isto tenha alguma emenda. Mas para ter emenda tem de haver uma grande alteração da própria intervenção dos políticos. São eles os grandes responsáveis por esse estado de coisas, mas em última análise também são os próprios cidadãos, porque é bom recordar que não só nós elegemos os políticos, como também, individualmente, cada um de nós pode dar um contributo para a degradação ou para a melhoria do estado do Ambiente. Em suma, acho que ainda é possível haver essa inversão, embora cada vez mais difícil em alguns sectores.

Nesse aspecto da responsabilidade individual, o que é que tem falhado? Falhou a sensibilização?
Portugal e os portugueses têm alguns problemas estruturais e um deles é o próprio conhecimento que têm das questões ambientais. Ainda há, infelizmente, uma elevada iliteracia ambiental, o que não surpreende porque é comum a outros sectores. Isso é fácil de reparar, por exemplo, nos inquéritos que o programa Observa tem vindo a fazer e que mostram que em sectores básicos há um grande desconhecimento de aspectos ambientais essenciais. Eu dou um exemplo: a esmagadora maioria das pessoas, quando se está a discutir um plano de ordenamento ou um plano director municipal (PDM), desconhece completamente o que é que se está a falar, ou melhor, nem sequer tem a iniciativa de participar quando há discussões a esse nível. Mesmo que queira participar, a linguagem que é utilizada muitas vezes é demasiado hermética, portanto a maior parte das pessoas não sabe se, por exemplo, um índice de urbanização de 1,5, em concreto, resulta ou não numa massificação urbanística. Além disso, temos também a fraca iniciativa popular em defender o seu presente e o seu futuro. Depois há problemas ao nível da sensibilização. A formação ao nível ambiental não tem sido feita, e não tem sido feita, a meu ver, propositadamente. Para os políticos é bom manter as populações pouco informadas, pouco sensibilizadas, porque pessoas interventivas causam-lhes incómodo. Há que inverter esta situação e continuar, cada vez mais, a divulgar e a denunciar situações dessas, e este livro, em certa medida, tem como objectivo mostrar às pessoas que a situação está má. Para isso é preciso quantificar. Muitas vezes temos a ideia de que a situação do urbanismo, por exemplo, está má. Mas está má porquê? À medida que ia trabalhando os dados, eu próprio ficava surpreendido com a dimensão da situação. Julgo que se as pessoas tiverem consciência de que, de facto, estão a perder qualidade de vida, estão a perder ao nível económico e que o Ambiente está também a degradar-se a olhos vistos, talvez mudem de atitude.

Mas muitas pessoas continuam a reagir de uma forma indiferente...
Há uma grande indiferença. Nesse aspecto, os portugueses infelizmente queixam-se muito mas actuam pouco. Sinceramente, tenho algumas dificuldades em saber como fazer para que as pessoas que têm esses problemas reajam. O português quando está zangado com determinado partido, castiga-o de duas formas: votando noutro ou abstendo-se. Ou seja, abstêm-se completamente dos problemas e ignoram-nos se não forem com eles. Não sei como é que se há-de inverter isto. Talvez com associações mais interventivas, com um maior trabalho de campo, mas tenho perfeita consciência de que os meios que as instituições possuem são extremamente escassos.

Utiliza muito a ironia. No Estrago da Nação” diz, por exemplo, que “o automóvel é um electrodoméstico ambulante”. Esse é o segredo para cativar as pessoas para lerem um quadro tão negro sobre o país?
O livro tem muita informação quantitativa. No meu estilo de escrita, sempre que posso, utilizo a ironia e o sarcasmo porque acho que é uma forma subtil de cativar o leitor. Aqui, tentei também utilizar isso e uma linguagem mais fluida para mostrar a situação sem que as pessoas entrem em depressão porque, de facto, há algumas situações que são quase deprimentes. Embora eu próprio também ache que, para não ficar deprimido, tento olhar os problemas ambientais com alguma ironia. É uma arma de defesa que muitas vezes eu utilizo para ainda manter alguma esperança.

Em “Eco-Grafia do País Real”, um outro livro seu, contava situações em que se viu troçado em público por levantar problemas como o da falta de qualidade da água de abastecimento público. Hoje as consciências mudaram ou a defesa do ambiente continua a ser olhada como uma mania?
Recordo-me, ainda do tempo de estudante, de ter ido uma vez a um congresso no Alentejo, julgo que em Sines, em 1990/91, e ter apresentado uma comunicação sobre a poluição da água do Alentejo e houve mesmo sugestões para que aquela comunicação fosse retirada das actas. Julgo que actualmente ninguém tenta negar que haja problemas. Há dez ou quinze anos acontecia, mas hoje já não acontece. Contudo, em alguns aspectos os portugueses não levam as coisas ainda muito a sério. Tenho esperança que as coisas mudem, ou seja, que daqui a dez anos nós estejamos melhor em termos de civilização e mais conscientes do que estávamos há dez anos. O problema é que em dez anos a situação pode piorar muito. Preferia que as pessoas aprendessem lendo estes livros e através das associações, do que através da pedagogia da catástrofe. Quando há uma grande cheia, por exemplo, ficam com a consciência de que ela é provocada pelo mau urbanismo. Mas preferia que ficassem sensibilizadas sem termos uma série de catástrofes. Não fico satisfeito se daqui a dez anos disserem: “Agora é que nós vamos salvar o lince ibérico”, quando ele já não existir. Aí já não vale a pena. Há situações em que o tempo joga contra nós.

Muito de que escreve é resultado de investigações jornalísticas. Como é que um activista do Ambiente chega ao Jornalismo?
Com naturalidade. Quando eu estive na Liga para a Protecção da Natureza (LPN) e depois na Quercus, contactei com muitos jornalistas e era aquilo que se chama uma fonte para os jornalistas. Quando abandonei essas lides de actividade ambiental, pensei: “Bom, tenho alguns conhecimentos nesta área, sei escrever mais ou menos” e comecei quase como hobbie. Lembro-me que comecei a escrever umas coisas na Fórum Ambiente, em 95, e depois a dar apoio a alguns trabalhos no Expresso. Aos poucos aquilo passou de hobbie a praticamente profissão. Depois comecei a escrever no Expresso com mais regularidade, de forma autónoma, e a seguir na Grande Reportagem. Foi uma oportunidade que surgiu e que, com naturalidade, se foi desenvolvendo. Mas não haja dúvida que, ao nível da minha actividade jornalística, tenho a meu favor dois aspectos essenciais: a minha formação académica – sou licenciado em engenharia biofísica - e, sem dúvida, a minha experiência como activista ambiental, embora desde que me tornei jornalista praticamente a tempo inteiro desliguei-me de qualquer ligação às associações. Formei o Observatório do Ambiente mas com um outro tipo de abordagem mais de debate das questões e não uma intervenção directa em conflitos ambientais. Este “afastamento” tem a ver com essa tentativa de isenção, embora muitas vezes seja acusado de ser um jornalista de causas, o que não me preocupa por aí além. Até acho que é um elogio. Embora as criticas sejam feitas com sentido depreciativo, não as vejo e gosto até de ser considerado um jornalista de causas, até porque há tão poucas pessoas que lutam por causas e se dizem que eu sou uma dessas pessoas, fantástico!

Um jornalista de causas não tem por vezes dificuldade em obter certas informações?
Tenho e tive grandes dificuldades muitas vezes de relacionamento com alguns interlocutores como o Ministério do Ambiente, ou algumas autarquias. Mas como costumo dizer, nunca deixei de fazer uma notícia por não falarem comigo. É essa a postura que eu tento sempre ter. Um jornalista se for bom consegue sempre obter informação, por mais que as portas se fechem, e eu não tenho problemas absolutamente nenhuns de escrever “o órgão de comunicação social “x” tentou obter comentários”, mas não houve declarações, porque tento sempre ouvir a outra parte. O silêncio muitas vezes é uma declaração. Pelo facto de ser um jornalista de causas, não tento manipular a verdade.

Muitas das suas reportagens são polémicas. Com isso obteve sucesso mas também muitos inimigos…
Não, não tenho muitos inimigos nem ando com um guarda-costas. Acho que só recebi uma vez uma carta anónima com ameaças mas parece que aquilo não deu em nada. Há pessoas que se calhar não me recebem de braços abertos, mas acho que não tenho inimigos, ou pelo menos quero pensar que não tenho.

Tem pelo menos vários processos em tribunal contra si. Como é que sente em relação a isso?
Sinto-me bem. Costuma-se dizer que um bom jornalista é que já recebeu um prémio, que já teve um processo em tribunal e que já apanhou um enxerto de porrada. A mim só me falta apanhar um enxerto de porrada porque já recebi prémios e já tive três processos em tribunal. Ter os processos em tribunal não me apoquentou nada. Apoquentava-me era se eu tivesse sido condenado. A mim isso até me enche de orgulho. Venham mais, porque o facto de haver processos em tribunal muitas vezes é contraproducente para quem intenta a acção. Embora também incomode. Recordo-me que por causa de um processo em Amarante tive de lá ir três vezes. Mas até tive o prazer de ouvir a própria juíza a queixar-se da água de Amarante... Estas são daquelas pequenas vitórias que se obtêm mesmo quando se vai a um tribunal.

Foi galardoado com o “Prémio Nacional de Ambiente Fernando Pereira 2002/3”. Como vê o jornalismo ambiental que se faz hoje em dia?
Vejo com bons olhos. Em relação aos tempos em que era activista, hoje há mais jornalistas e muitos deles bons. Mas o grande problema é ao nível das próprias direcções. Houve essa evolução, mas, por exemplo, acho que nos últimos dois/três anos houve um decréscimo. Se repararmos, o Público e o Diário de Notícias já tiveram uma secção de Ambiente e deixaram de ter e, cada vez há menos notícias de Ambiente e menos notícias aprofundadas de Ambiente. Existiam também revistas de ambiente, mas há dois anos desapareceram duas – a “Ozono” e a “Fórum Ambiente”, lamentavelmente para mim, porque também escrevia para lá. Isso é um sinal de que embora haja melhores jornalistas, a crise fez com que o jornalismo ambiental esteja a atravessar também graves problemas. Mas isso não justifica que de quando em vez surjam notícias completamente inqualificáveis, porque o jornalismo ambiental é um jornalismo que é muito técnico, muito complicado, em que há muitos interesses e, portanto, tem de haver jornalistas com bastante tarimba quer em termos de jornalismo, quer em termos técnicos e isso muitas vezes não é fácil de encontrar. E não estou a dizer que sou o único. Direi que há meia dúzia de bons jornalistas de Ambiente e depois haverá alguns que para lá caminharão e eu espero que caminhem.

Já alguma vez pensou ligar-se à política?
Não. Eu corrijo. Eu faço política. Isto é um livro político. Agora se me disserem “Ligava-se a um partido político?”, não digo “desta água não beberei”, mas não está nos meus objectivos. Só em circunstâncias muitíssimo especiais é que eventualmente me poderia ligar, mas julgo que serei melhor a fazer este tipo de política do que estando num partido. Mas também, e isto não é com falsas modéstias, conseguiria fazer melhor do que muitos dos que lá estão. Se calhar qualquer um de nós conseguiria fazer melhor do que os últimos governos em matéria ambiental. O que tem acontecido nos últimos anos no governo é que tem havido uma evolução ao contrário. Se repararem, desde os anos 70 tivemos políticos com tarimba e que com poucos meios conseguiram montar os alicerces de uma politica ambiental em Portugal, como o Ribeiro Telles ou o Carlos Pimenta. Depois disso temos tido políticos com poucos conhecimentos nesta área e muitas vezes trapalhões. Isto tem sido extremamente negativo e penalizador para o estado do ambiente em Portugal e, isso é intencional, ou seja, o facto de nós termos políticos fracos no Ministério do Ambiente não é por acaso. Até porque temos um leque vastíssimo quer de políticos, quer de técnicos, com formação politica suficientemente vasta para termos bons governantes na Rua do Século. Não os temos, não é por falta de escolha... Aliás, notem por exemplo que quando estava para ser indicado o professor Carmona Rodrigues para a pasta do Ambiente, que em termos técnicos podia fazer um bom papel, não foi ele para a área do Ambiente. Um completo desperdício.

Como classifica então a política do actual ministro e do actual ministério?
Tirando o Carlos Pimenta, o PSD nunca foi conhecido por ser um partido particularmente simpático para com o ambiente. Estes dois últimos ministros – o actual e o anterior – estão a fazer um papel muito mau ao ponto do Ministério do Ambiente ser praticamente inexistente. De qualquer modo, se me perguntarem se prefiro o Amílcar Theias ao Isaltino Morais, de caras prefiro o Amílcar Theias porque me parece uma pessoa com princípios muito mais fiáveis do que o Isaltino Morais, embora tenha um grande desconhecimento em matérias de ambiente. Julgo que um ministro não pode estar a aprender no ministério, porque a Rua do Século não é a pré-primária para um político. Só deve ir para um ministério quem saiba a lição e ele nesse aspecto tem muitas dificuldades, para além de não ter conseguido pessoas ao ser redor com conhecimentos. Mostra grandes dificuldades em variadíssimas matérias.

Se lhe perguntassem quem é a Bela e quem é o Monstro deste governo, era capaz de responder?
Já estou a ver que vão ao meu blog. É um bocado difícil porque há poucas Belas e Monstros há muitos. Monstros é toda a política de Ambiente do governo quer pelo que faz, quer pelo que não faz. Eu não vejo no actual governo nada de estruturado nem nada de bem feito, porque tudo é feito de forma casuística. Mas faço uma ressalva importante: o facto de ser extremamente crítico com este governo não significa que o governo do PS não tenha feito tão mal ou pior em muitas áreas. Teve um péssimo desempenho na área dos resíduos industriais, teve um péssimo resultado na política de resíduos sólidos urbanos apesar dos rios de dinheiro que teve. Ou seja, ficou-se com aquela ideia de que tinha havido a limpeza do século e afinal notamos que grande parte dos equipamentos no caso dos aterros apresenta deficiências gritantes injustificáveis. A reciclagem está a marcar passo ou até a recuar. O grande trunfo do ministério, que foi a fusão do Ordenamento com o Ambiente, não trouxe melhorias nenhumas. Tivemos meia dúzia de situações casuísticas em que houve intervenção positiva. Ao nível de politicas do urbanismo não houve alteração absolutamente nenhuma nos governos do PS e o programa Polis foi um espalhafatoso programa de marketing que só gastou dinheiro e não resolveu estruturalmente problemas absolutamente nenhuns. O aspecto mais positivo do anterior governo foi o peso que o José Sócrates conseguiu para a pasta do Ambiente, mais pela pessoa em si, porque ele entretanto ganhou peso politico dentro do PS e dentro do próprio governo. A pasta do Ambiente ganhou peso político e esse trunfo foi agora completamente desperdiçado pelo governo PSD-PP por ter sido entregue a pessoas completamente fracas. Mas o PS fez muita coisa mal feita. Nesse aspecto, PS e PSD-PP estão no mesmo valor em termos de politica ambiental, não vejo grandes diferenças entre um e outro.

O projecto “Estrago da Nação” em formato “weblog” pretende dar continuidade ao livro e futuramente resultar num outro tipo de publicação física? Que tipo de estratégia pensa seguir?
Depois de escrever este livro cheguei à conclusão que escrevi já praticamente sobre tudo o que se tinha a escrever sobre Ambiente. Às vezes já há em mim um certo cansaço em abordar só temas de ambiente, embora o ambiente seja já muito transversal, pois quando se fala de Ambiente também se fala de Saúde, desenvolvimento económico, de tudo e mais alguma coisa. No futuro não sei. Pelo menos no “weblog” continuo a escrever sobre o Ambiente. Não sei se dentro de uns anos voltarei à carga e farei uma avaliação de um outro tipo de abordagem do estado do Ambiente em Portugal. Espero é que daqui a uns anos, se voltar a escrever um diagnóstico do estado do Ambiente, o título não seja nem este nem um parecido.

Até lá, as “Farpas Verdes” que escreve no “blog” são uma espécie de desabafo ou pretende de facto fazer “estragos” na nação”? Estragos no sentido de contribuir para que a situação mude...
Eu tenho perfeita consciência da limitação que eu, como mero cidadão e jornalista, tenho para influenciar as coisas. Às vezes sei que como jornalista posso influenciar alguma coisa, mas isto é um contributo. Não direi que com este livro mude o país. Seria presunção demais da minha parte. Agora, se eu fizer isso, se vocês na associação também derem, e dão, o vosso contributo, se cada um de nós der o seu contributo, pode ser que as coisas mudem. Quer com o livro, quer com o “blog”, quer com a continuação de alguns aspectos que eu abordo no livro e que vão surgindo. Aí continuarei, até que as mãos me doam.

Andreia Nogueira e Luís Galrão
QUERCUS Ambiente n.º 4 (Janeiro/2004)
 
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