Filipe Duarte Santos é o coordenador do projecto SIAM, que desde 1998 se dedica ao estudo do impacte das alterações climáticas em Portugal. O aumento das secas, e por outro lado das inundações, são algumas das consequências que podemos esperar do efeito de estufa. Mas a sensibilização ainda mal deu os primeiros passos e quase nada está a ser feito para enfrentar as novas realidades
Viriato Soromenho-Marques, 47 anos, é professor catedrático da Universidade de Lisboa. Foi presidente da direcção nacional da Quercus, entre 1992 e 1995. Membro do Conselho Nacional do Ambiente e do Desenvolvimento Sustentável desde 1998, e vice-presidente da rede europeia de conselhos de ambiente e desenvolvimento sustentável (EEAC-European Environmental and Sustainable Development Advisory Councils) desde 2001. Em 2004 foi um dos autores da Estratégia Nacional para o Desenvolvimento Sustentável (ENDS). Autor de uma vasta bibliografia, o Quercus-Ambiente convidou-o para uma breve entrevista a propósito da sua mais recente obra, saída no início do Verão.
A seca extrema que afecta Portugal voltou a criar o desespero entre os agricultores. De ano para ano os riscos são maiores e as alterações climáticas parecem tornar-se uma realidade cada vez mais palpável. Será que a agricultura está preparada para resistir a uma Natureza em transformação acelerada? Fomos conhecer a opinião de Luís Mira, secretário-geral da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP) desde 1999, para quem é inevitável uma aproximação entre a agricultura e a defesa do ambiente. Do problema da água às políticas europeias, dos transgénicos ao “elefante branco” de Alqueva. O presente e o futuro, sem evitar os temas controversos.
Victor Louro é Ponto Focal da Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação e presidente da Comissão Nacional do Programa de Combate à Desertificação. Engenheiro silvicultor de formação, trabalha, actualmente, como técnico superior na Direcção Geral dos Recursos Florestais. Considera dramática a actual situação de seca. E tem propostas concretas a defender. É apologista de um uso mais eficiente da água e de uma acção participada e concertada, que reúna competências e saberes. Por isso apela à criação de um Sistema Permanente de Observação das Secas, valoriza estratégias locais como a das Furnazinhas, em Alcoutim, e projectos científicos, como o DesertWatch.
Ricardo Garcia é jornalista do Público desde a sua fundação, em 1989. Neste jornal, tem escrito sobretudo sobre ambiente e chegou a ser premiado pelos seus trabalhos na área das alterações climáticas e do protocolo de Quioto. Há um ano, lançou o livro “Sobre a Terra”, um guia para quem lê e escreve sobre ambiente, e é um dos fundadores da recém-criada Associação de Repórteres de Ciência e Ambiente (ARCA).
Há 250 anos, o maior sismo de que há memória na Europa e um dos maiores do mundo assolava Portugal. A maioria das vítimas foi arrastada pelo maremoto que galgou o estuário do Tejo e atingiu a cidade de Lisboa, nesse fatídico 1 de Novembro de 1755. Ainda não podemos prever quando voltará a acontecer uma catástrofe semelhante, mas os cientistas portugueses têm vindo a estudar o “respirar” da terra para conhecer as causas e as circunstâncias em que ocorrem os sismos e os tsunamis, como aquele que em 26 de Dezembro provocou centenas de milhares de mortes no Sudeste Asiático.
Uma escala técnica, em Lisboa, do navio “Esperanza” do Greenpeace, permitiu-nos conhecer o seu actual capitão, Jonathan Castle. Duas décadas e meia de activismo ensinaram a este “leigo” de 54 anos, celebrados nesta paragem, o real valor da amizade, da confiança e da responsabilidade. No Greenpeace já comandou quase todos os navios, incluindo o primeiro “Rainbow Warrior”, afundado em 1985 pela secreta francesa.
Luísa Schmidt, socióloga e jornalista, dedica-se há vários anos à análise dos problemas ambientais do país, sem descurar a sua dimensão social. Escreveu “Ambiente no Ecrã”, um estudo exaustivo que analisa a forma como a RTP viu o ambiente ao longo de 40 anos. Esse trabalho deu origem à série televisiva “Retrato Ambiental de Portugal”, que a televisão pública acaba de transmitir. É uma das fundadoras do Observatório do Ambiente e em 2002 foi distinguida com o Prémio de Comunicação Ambiental das Nações Unidas.
José Alho, 42 anos, é um ambientalista veterano que já passou pelas direcções da Quercus, do Parque Natural da Serra D’Aire e Candeeiros e do Instituto de Promoção Ambiental. Presidente da Liga para a Protecção da Natureza (LPN) há dois anos, José Alho faz um balanço do seu mandato e lamenta que os políticos tenham mais perícia em apagar instituições e políticas ambientais do que propriamente fogos.
O Grupo EDP ainda não sabe exactamente em que projectos vai investir para ganhar créditos de emissão de carbono, como prevêem os mecanismos de flexibilidade do protocolo de Quioto. A empresa vai ter de comprar direitos de emissão a partir de 2005, tanto assim que foi atribuída ao sector eléctrico, no âmbito do PNALE, uma quota menor do que era esperado. Mas o director de Ambiente da holding, Neves de Carvalho, mostra-se confiante e aponta para os investimentos de longo prazo que a EDP tem feito na produção de energia mais limpa.
Interrompemos uma das tarefas preferidas de Luís Carloto Marques, o recenseamento dos ninhos de cegonha-branca, para conversar um pouco com ele. No jardim da beira-mar, junto ao Parque Natural da Arrábida, onde trabalha, à beira do rio Sado. Agricultor, apicultor, fundador da Agrobio nos anos 80 e um activo militante pelo direito à não caça, este engenheiro florestal de 41 anos é o cabeça de lista pelo Partido da Terra às eleições europeias.
Manuel Costa Alves pode ser hoje considerado um pai da meteorologia em Portugal. E uma figura chave na mudança que aproximou esta disciplina da protecção civil. Em entrevista ao Quercus Ambiente, o especialista lamenta que a memória das tragédias não dure muito e não ensine o país a prevenir os riscos. Alguns perigos, como as ondas de calor, continuam a ser quase ignorados. E ainda nem passou um ano desde que vivemos uma das mais sérias da nossa história.